Incoerência da madrugada

13:28 Igraínne 0 Comments


Existe essa coisa louca de não deixar o outro te ferir. Isso é uma bela duma merda. Numa dessas tardes imundas de outono cinzento eu estava refletindo sobre isso. Sobre o quanto essa tentativa social de construir muros mentais nunca foi uma boa ideia. Quero dizer, muros sempre caem, é por isso que eles são construídos, para servirem de proteção contra algo ~perigoso~. Vai adiantar nada, em algum momento vão atear fogo no espaço. E você sabe, o incêndio é sempre maior quando tem mais material para queimar. 

O negócio, então, é comprar uma espada. Antes atravessar o coração do outro que o seu próprio, correto? Errado. Ter o coração sadio proporciona fragilidade. Se todos fôssemos doentes de amor, a doença não seria mais doença e sim normalidade.

Esse texto nem faz sentido, é só uma coisa que eu tava pensando ontem, enquanto esperava mensagens importantes no meu celular rachado. Indo à cozinha, sozinha em toda aquela imensidão de casa, eu andava passeando os dedos pelas paredes como quem passeia as mãos pelas pernas de alguém. Com carinho, afeto. As paredes eram firmes, afinal, agarrar-me a elas parecia mais racional que decair em pranto rouco. Porque desse eu já estava farta. Eu gritaria se isso não despertasse a atenção dos vizinhos, sempre desesperados demais para saber sobre a minha vida, como um Big Brother completo de gente não importante morando ao lado. 

Talvez eu devesse dormir. Estava beirando a loucura de quem tem insônia por três dias. Talvez pensar demais fosse o meu problema, mas eu não podia simplesmente *não pensar*. Sem isso, eu escreveria sobre o quê? Era uma pergunta bem babaca, na verdade. 

 -- Uma vez vi num filme que o escritor frustrado sempre está interessado em escrever sobre a própria vida, e não a respeito da dos outros - era por isso que ele não fazia sucesso, porque ninguém gastava dinheiro com a vida medíocre de um escritor fodido que sempre acabava com as economias num bar de esquina. Escritores são desinteressantes, só se tornam mídia com escândalos impressos. -- 

Isso me soava revoltante, embora fosse uma completa verdade.

0 comentários: