Aquelas estações de metrô
Já diziam as velhas línguas que "a vida passa". (Então corre senão você perde ela de vista). É engraçado como todo mundo se agarra nos ferrinhos quando o metrô desliza sobre os trilhos - todos com medo de cair (mas cair em cima de alguém). Outro dia eu estava num desses vagões e notei o medo no olhar das mulheres (assédios são comuns), o cansaço no rosto dos homens e a curiosidade das crianças. Elas, agarradas às pernas das mães, olhavam para tudo, para todos, sem medo, na esperança de que alguém lhes dissesse: essa é uma viagem para um reino mágico. É aí que eu lhes pergunto:
Onde ficou o meu reino mágico?
O medo é uma coisa tão comum no Rio de Janeiro que quem não o tem é visto como ingênuo. Ingênuo como uma criança de 5 anos. As pessoas não notam que, embora o Jornal Nacional alimente outra coisa, estamos criando medo dos trabalhadores, dos homens comuns, pais de família, donas de casa, medo dessa gente dentro do metrô. Medo do povo.
E quem devia temê-lo não é você ou eu, e sim quem está acima deles, quem está acima de nós.
Eu acho tão curioso o modo como o metrô é um encontro casual de tanta gente ao mesmo tempo - qual espaço é mais plural que o metrô às cinco da tarde? Tanto material legível em cada um daqueles rostos, tanto assunto para aulas de filosofia, estudos sociológicos, narrativas de fundo realista...
Se cada uma daquelas pessoas fosse um livro, que livro elas seriam? As crianças seriam a "Terra do Nunca", e alguns, os cansados, seriam o "Grande Sertão: Veredas", mulheres seriam feitas de poesia e romances policiais, idosos figurariam como Oráculos...
Semana passada fiquei imaginando quão felizes aquelas pessoas ficariam só de saberem que livros bonitos elas representam na minha mente. Isso porque estamos falando da minha, imaginem quantas loucuras mais habitam as outras mentes dentro do vagão lotado às cinco da tarde?
Às vezes o mundo ignora coisas tão óbvias...
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